segunda-feira, 20 de agosto de 2012

CABIDE E CRUZ (Luiz Leme Franco)



CABIDE

luizcarlsolemefranco
Pendurado no alto de uma mortífera  cruz,
houve quem ficou com muita resignação.
Pendurado dentro de um guarda-roupa, sem luz
Ficou uma velha roupa de comemoração.

A cruz suportou uma vida divina.
Com este sucesso o mundo mudou.
O móvel acomodou um terno de esquina:
com este fato nada no mundo se alterou.

Não há aqui o que se comparar:
o que esteve no madeiro foi santo
e no armário só uma roupa a guardar,
que apenas serviu um homem, se tanto.

Cabide de braços abertos para blusas,
cruz de braços abertos para Jesus.
A vida só nos oferece coisas obtusas
que são um pouco de nossa cruz.

Não se compara estes dois acontecimentos,
pois não se deduz nenhuma semelhança
entre a cruz que apenas dá sofrimentos
e o cabide que só existe na abastança.

Não vamos morrer naquele calvário,
nem vamos ficar em uma cruz,
e nem dentro de um grande armário,
mas sim sobrevivendo aqui na luz.

Nosso mundo, dores intensas, nos faz,
- mundo virtual ou real, não importa –
e nos impõe suas normais cruciais:
só o passageiro da cruz nos conforta.

A ética que temos em nossa mente,
às vezes nos crucifica na óptica da vida,
e nos mostra esta cruz ou um dormente,
que nos levam ao caminho de subida.

Em cruzes, cabides, arcos ou rodelas,
o modo como nos parecemos às pessoas
é só um reflexo do pensamento delas.
Em nós sempre há pretensões boas.

Não nascemos para sermos cabides de maquinarias,
não existimos para que nos pendurem maldades.
Nosso objetivo é sermos cruzes de benfeitorias
e  estarmos na Terra sempre bem entre bondades.

Cruz e cabide, que comparação banal
misturando o sagrado com o  mundano.
O simbolismo da cruz nos leva ao bem final
e o significado do cabide é algo bem profano.

Cabide, na gíria  é  um penduricalho
onde alguns inúteis são enganchados,
 incompetentes conseguem trabalho,
 e indizíveis desmandos são arranjados.

“ Cada  um  carrega sua cruz”
dizem de quem trabalha duro.
Do tabuismo cabidão se deduz
emprego ganho, sem muito apuro.

Cristo, na cruz, mostrou p’ra todos
como o caminho se pode trilhar :
é possível sim, sem nada de engodos –
-  basta uma vontade férrea cultivar.

Uma cruz qualquer, em qualquer lugar
é sinal de religiosidade de alguém.
O uso de um cruzeiro é para mostrar
uma crença, respeito e morte também.  

Qualquer cabide em qualquer lugar
é um local banal, uma ferramenta
onde o que se deseja é apenas guardar
uma coisa do mundo, uma vestimenta.

Vestimenta ética, moral, que perdura
porém, só conseguimos com nossa cruz
onde coisa mundana alguma se pendura.
Não somos unicamente matéria, somos luz.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

NÃO VENHAS HOJE (Tito Lívio)


 
 
 
NÃO VENHAS HOJE


Não venhas hoje cá! Não quero ver-te.
Secou o teu amor pela raiz.
Fiz tudo pra te ter, para prender-te,
E vi somente o teu rosto infeliz.
Morreu este desejo para ter-te,
Beijar-te a boca já nada me diz.
Por certo a minha mágoa não te importa,
Mas vou tentar a sorte a outra porta.

Não venhas hoje cá! Não quero mais
Andar pelas esquinas da amargura,
Pegando pela frente vendavais,
Quando a falta de afeto me tortura.
Não vou fazer de bobo em festivais
Nas vezes que o desprezo me procura.
Não vais rir-te de mim sempre que eu choro,
Pois não te quero mais, já não te adoro.

Não venhas hoje cá! Mas vem depois,
Quando a manhã se abrir em luz da aurora
E não possa o escuro ver nós dois
Abraçados de amor a toda a hora.
Vem cá, mas fecha bem a porta, pois
Assim o meu azar fica lá fora.
Vem cá e fica aqui, que sem amor
A vida, para mim, não tem valor.


terça-feira, 14 de agosto de 2012

CHORO EU E A GUITARRA (Clóvis Campelo-Recife/PE.)




CHORO EU E A GUITARRA

Clóvis Campêlo

Choro eu e a guitarra,
neste solene momento,
onde a lembrança esbarra
em suaves movimentos

de um tempo que não para
e que não tem lenimento;
de uma dor que se encancara
e não esconde o tormento

do que ficou para trás,
perdido no pensamento;
do que não volta jamais,

perdido no encantamento
do que antes era paz
e se tornou sofrimento.
 

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domingo, 5 de agosto de 2012

GILDO BRANCO (compositor de frevos e canções)



GILDO BRANCO


Clóvis Campêlo

Pernambucano, compositor de frevos, nascido em uma família de flautistas amadores, seu nome de batismo era Astrogildo Américo Branco Filho.
Era irmão de Aline Branco, cantora que fez nome na Rádio Clube de Pernambuco na década de 1930.
Até 1939, trabalhou como comerciário na Livraria Universal.
Em 1946, ingressou no Clube Português do Recife como escriturário, passando mais tarde a supervisor. Foi no Clube Português onde conheceu o maestro Nélson Ferreira, que o lançaria como compositor.
Em 1960, teve uma música gravada pela primeira vez. A cantora Voleide Dantas gravou o frevo-canção Periquito bateu asas, feito em parceria com Sebastião Rosendo. Em 1961, Raimundo Santos gravou frevo-canção Gulosa. A partir daí, os seus frevos passaram a ser sucesso em todos os carnavais recifenses.
Em 1962, Evaldo França gravou A lua disse, cuja letra transcrevemos abaixo e que foi o ganhador do concurso de músicas de carnaval instituído pela Prefeitura do Recife.
Em 1964, voltou a ganhar a primeira colocação no concurso da Prefeitura coma música Amor de marinheiro, cantada por Penha Maria.
Em 1966, emplacou mais um sucesso com a música Cochilou, o cachimbo cai, gravada por Germano Batista.
Inúmeros sucessos seus fizeram partes dos carnavais posteriores, como Você está sozinha (1969), feita em parceria com Valdemar de Oliveira e gravada por Expedito Baracho; Levante o dedo (1970), em parceria com Aldemar Paiva e gravada pelo Coral RCA; Pertinho dela (1971), também gravada por Expedito Baracho e mais uma vez vencedora do concurso instituído pela Prefeitura do Recife; O frevo é de Pernambuco (1974), gravada por Claudionor Germano e também vencedora do concurso de músicas carnavalescas daquele ano. Inúmeros outros frevos-canções seus fizeram sucesso, como Os direitos são iguais, Como vai de amor, Olinda do meu coração e Passei no vestibular.
Como compositor de frevos-canções, foi um cronista que registrou os fatos, costumes, e acontecimentos da sua época.



A LUA DISSE
(Gildo Branco)

Gagarin subiu, subiu, subiu,
foi até ao espaço sideral,
chegou perto da lua e sorriu:
"Vou embora pro Brasil
que o negócio é carnaval".

A lua disse:
"Não vá demore mais,
pois ouvi que lá na Terra
querem me passar
pra trás".

Mas o Gagarin não ligou
e deu no pé:
"Vou mesmo pro Brasil,
eu quero é conhecer Pelé".



Recife, 2009